MARCAS DA ADOLESCÊNCIA! Dr. Sebastião Costa faz uma release da sua adolescência em Catolé do Rocha

Quando a memória consegue se desvencilhar da consciência adulta, faz também um passeio pela adolescência. Setembro desses fui dar uma olhada nas quermesses. Sem o pátio da igreja, sem a banda de música, sem tradição.

 

Dei uma esticada ao Leão XIII para rever minha adolescência. Vizinha, ainda estava lá desafiando a gravidade, a casa “mal-assombrada” do finado Bezerrão. Não assombrou Dora que foi lá, arrancou uma botija e comprou uma bodega e um marido. Nem nunca assustou Basquera, eterno vendedor de pirulitos, e seu irmão Zé Bruguelo, exímio vomitador, inquilinos daquela casa que só entrei uma única vez, com medo!

 

A fachada do Leão XIII, intacta na sua arquitetura me obrigou a ver Tuninha no ombro de Francisquinho para chegar ao telhado e ligar os fios que acendiam as luzes da quadra de futebol de salão.

 

Estava restabelecido o dia!

 

Jogar futebol de salão, à noite, duas novidades que mescladas à aventura, ao desafio, ao proibido enchia o peito de uma alegria, pura, infinita!

 

E ninguém morria de choque, nem de felicidade!

 

Lá dentro, agradável surpresa.

 

Um sádico havia antecipado que a tamarineira havia morrido de velha, e ela estava lá com todos os galhos, folhas e clorofila. Me cumprimentou num farfalhar vaidoso, esquisito, talvez ainda chateada por eu sempre preferir os braços abertos, enormes da cajaraneira. Caprichosa, fazia questão de manter as cajaranas maduras na ponta dos dedos como a desafiar meu equilíbrio.

 

Perdia todas!

 

O tempo, implacável, lhe impôs uma calvície senil que lhe emprestou um ar triste. Pleno contraste com a arrogância clorofilada da tamarineira.

 

Sempre desconfiei de uma disputa secreta entre as duas!

 

Expectadoras atentas de nossos embates esportivos, a cajaraneira, pelas nossas afinidades, torcia pelo time estudante; já a tamarineira mais fechada, vestia o amarelo/preto do tabajaras.

 

Harmonia mesmo só no respeito ao futebol. Suas imensas raízes jamais cogitaram invadir nosso palco esportivo.

 

Por trás da primeira trave da quadra estava lá impassível, à sombra da tamarineira, a pedra que se fazia de banco de reservas e visão privilegiada do jogo.

 

Em cada árvore, pedra, lugar, pedaços de mim encalhados no tempo, cheiro forte de adolescência no ar.

 

Revi as brigas homéricas de Diá com Babau, goleiro competente, brigador insistente, bilouras persistentes. Lembrei de Pereirinha (bem maior) correndo com medo das vomitadas certeiras de Zé Bruguelo; relembrei minhas disputas de "ponto" com Francisquinho, perdedor consciente!

 

Um matagal insensível invadira a quadra. A emoção conseguiu unir fragmentos renitentes de cimento e pude ver Oliveira brigando pelo seu time do Estudante, amor recíproco! Visualizei o futebol musical do Sambossa, as "guerras" entre o Tabajara e o Estudante, os chutes certeiros de Diá, as bombas de Marcos, as defesas indefensáveis de Severino, o futebol objetivo de Zeninho, elegante de Genaldo; os dribles de corpo de Nena. Assisti novamente a um 4x4 entre Souza e Catolé, a mais bela partida de futebol que aquela quadra já viu.

 

Me ví jogando um futebol ágil, diferenciado, pra ajudar o Dom Vital massacrar o colégio Cajueiro e o Estadual; lembrei das meninas do Francisca Mendes batendo impiedosamente o Estadual no vôlei. A dobradinha Dom Vital, Francisca Mendes, campeões absolutos das Olimpíadas.

 

Alegria transpirando por todos os poros, suprema felicidade!

 

Outro dia conversando com Deus, fui muito sincero: só topo ir pro céu, se lá eu puder jogar futebol de salão na quadra do Leão XIII!

 

+++

 

O Autor: Dr. Sebastião Costa / Médico Pneumologista, natural de Catolé do Rocha e residente em João Pessoa (PB).

 

CATOLÉ NEWS

-

Paraíba

João Azevêdo anuncia mais de R$ 50 milhões de investimentos durante audiência do ODE em Mamanguape

Paraíba

Duas cidades da Paraíba estão entre as 10 com os maiores índices de analfabetismo do Brasil, diz IBGE
© 2024. Catolé News. Todos os direitos reservados